O quadro “Xeque-mate”, de Moritz Retzsch
No início do Século XIX, quando não existiam fotografias nem cinema, os artistas se expressavam pela pintura, meio visual, e pela música, meio auditivo, para transmitirem emoções, sentimentos e impressões do mundo.
A percepção completa dos sentimentos que o artista transmite por meio da pintura requer análise detida dos detalhes do quadro.
Moritz Retzsch
O autor do quadro “Xeque-mate” é o pintor e desenhista alemão Friedrich August Moritz Retzsch (1779 – 1857), que também pintou ilustrações para livros, retratos e pinturas sobre temas clássicos.

O nome do quadro
O nome inicial do quadro, pintado em 1831, foi “Die Schachspieler” (Os Jogadores de Xadrez) e depois passou a chamar-se “Xeque-mate”.
Xeque-mate é o lance final do jogo de xadrez que encerra a partida, quando o rei está sob ataque (em xeque) e não possui nenhum lance legal para escapar desse ataque.
O quadro fazia parte do Museu do Louvre, mas foi leiloado em 1999 e passou a fazer parte de coleção particular.
A pintura
Tudo no quadro é intencional.
O quadro apresenta o jogo de xadrez disputado entre um homem e o Diabo, tendo ao fundo a figura de um anjo observando o jogo e o homem, seu protegido. O Diabo ficaria com a alma do homem, caso vencesse o jogo.
O Diabo apresenta olhar satânico, desafiador, como se tivesse encurralado o adversário e vencido o jogo. Seu olhar maldoso se deleita com o desespero do homem, pois sabe que o desespero faz a pessoa perder a esperança e desacreditar de sua fé. Sem esperança e sem fé, o homem será facilmente derrotado.

O homem apresenta expressão séria, compenetrada, em desespero por sentir o seu rei encurralado, o jogo praticamente perdido e sua alma entregue ao Diabo. Ele não via saída para o rei, em xeque-mate.

O anjo da guarda assiste impassível ao jogo e apresenta fisionomia serena de observador. Ele pode até saber as jogadas necessárias para o homem vencer a partida, mas não interfere. As pessoas de fé interpretam essa atitude do anjo como a expressão do livre arbítrio, em que o anjo da guarda deixa o ser humano fazer escolhas de forma independente. Cabe ao homem sofrer a responsabilidade de seus atos e assumir a consequência deles.
A imagem do anjo tem ainda outra conotação: apesar de olhar para o seu protegido, o anjo está de frente para o Diabo, como que atento a qualquer investida que Satanás venha a tomar. O anjo da guarda, assim como os humanos, não devem dar as costas para seres maus nem se descuidarem de atitudes maléficas deles.

Jogadores de xadrez analisaram a disposição das peças do jogo no tabuleiro e concluíram que as peças pretas, utilizadas pelo Diabo, têm grande vantagem. Mas o homem não está em xeque-mate e não está vencido; ainda há uma jogada com a qual o homem sai da armadilha preparada pelo Diabo e pode vencê-lo. Pessoas de fé interpretam a única jogada possível como o único caminho possível para vencer o Diabo como sendo Jesus Cristo.
A análise do jogo de xadrez
Uma versão da análise do jogo diz que o americano Paul Morphy (1837 – 1884), campeão mundial de xadrez e melhor jogador de sua época, em visita ao museu do Louvre se deteve diante do quadro. Depois pediu um tabuleiro, espalhou as peças como no quadro e concluiu que o homem tinha uma jogada salvadora. Não existem comprovações históricas dessa narrativa.

Existe outra versão. O jornal semanal americano Columbia Chess Chronicle, publicado de 1887 a 1891 e único jornal dedicado inteiramente ao xadrez, narrou a visita de Morphy à casa do Reverendo R. R. Harrison, que tinha cópia da litografia de Retszch pendurada na parede. A publicação data de 18 de agosto de 1888 e narra o fato acontecido anos antes.
Os convidados observavam a reprodução do quadro na sala da casa do reverendo e comentavam sobre a derrota do homem do quadro.
Morphy aproximou-se do grupo e surpreendeu a todos ao dizer que o homem tinha uma saída que lhe garantiria a vitória. Para comprovar sua afirmação, ele pediu um tabuleiro, reposicionou as peças conforme a cena da gravura e demonstrou como a partida poderia ser vencida.
Outra variação do fato, mais romântica, diz que Morphy recebeu entusiasmados aplausos dos presentes, como se houvesse salvo a alma do homem.
Novas versões surgiram com o tempo sobre o “mais um movimento” que Morphy descobriu e que daria a vitória ao homem. Opiniões de enxadristas alegam que o homem precisaria de mais do que um movimento para vencer.
O Legado do quadro
Independentemente das versões, o episódio revela a habilidade de Paul Morphy enxergar possibilidades e descobrir saídas no jogo de xadrez.
O quadro de Retzsch permanece como símbolo da luta entre o Bem e o Mal, e da percepção para ver esperança e saída onde outros só veem derrota.
A história de Morphy e do quadro “Xeque-mate” lembra que a vitória pode estar a um lance, mesmo quando o jogo parece perdido. Há que se buscarem saídas e focar nelas, mesmo que elas não pareçam expostas claramente.
1 comentário
Penso que o ANJO sabia o melhor CAMINHO DAS PEÇAS….kkkkk. Bela reflexão para dias desesperançosos que vivemos…