A liberdade há que ser defendida em todas as circunstâncias e em todos os momentos. Não são apenas governantes que pretendem interferir em nossa liberdade para fazer exercer sua vontade ou seu achismo, baixando ordens a seu bel-prazer, muitas das quais fogem à lógica, à razão e ao amparo legal, técnico ou científico. Aí estão os exemplos das medidas tomadas durante a COVID-19 de lockdown, de fechamento de praias e de espaços públicos, de prisão de pessoas em praças e na praia e de fechamento de lojas e shoppings sem que houvesse estudo técnico-científico a embasar tais medidas.
Vivi a seguinte situação.
No dia 18 de fevereiro, consultei-me com minha gastroenterologista, que me receitou injeções de Vitamina B12 a serem aplicadas nos meses de março, julho e novembro de 2022. No dia 5 de março, procurei uma farmácia, com a receita em mão, e pedi para que me fosse aplicada a injeção. Para minha surpresa, a balconista disse que havia uma norma interna da farmácia que determinava que a primeira dose, determinada em receita, somente fosse aplicada dentro do prazo de dez dias após a data de expedição da receita. Ora, a receita datava de 18 de fevereiro e o prazo de dez dias – estipulado pela farmácia – havia vencido no dia 28 de fevereiro. Então, a farmácia, por questão de norma interna, não me poderia aplicar o medicamento em fevereiro; poderia aplicá-la em julho e em novembro.
Absurdo! Quem sabe quando devo tomar a injeção é a médica, que vê a necessidade de reposição da vitamina em meu organismo em função dos resultados dos exames e de minha evolução clínica. Mas um gerente qualquer da farmácia achou que ele, gerente, deveria estipular o prazo para eu tomar a injeção, ainda que passando por cima da ordem da médica. Perguntei para a farmacêutica por que 10 dias, e não 15, ou 20, ou 25, ou 8, mas ela não soube responder. Não havia motivo técnico nem científico a dar respaldo àquela ordem fajuta.
O absurdo é tão grande que a receita serviria para eu tomar a injeção nos meses de julho e novembro, pois a recomendação do prazo de 10 dias se referia apenas à primeira dose. Porém, no mês de fevereiro a receita estava fora do prazo.
Do caso extraio aprendizados. Um gerente qualquer de uma rede de farmácia qualquer estabelece uma ordem qualquer que interfere na liberdade e na saúde das pessoas, apenas porque ele ACHA que deve ser assim. Não pensou na falta de lógica, no absurdo de ir contra a receita médica nem na supressão da liberdade alheia ou do conforto alheio. Ele subiu numa lâmina de um milímetro de altura de poder – gerente de uma farmácia – adquiriu o poder de gerente e se sentiu poderoso para dar uma ordem qualquer.
A liberdade tem muitos inimigos naturais: a ignorância, o desejo de conquistar, o mandonismo, o desejo de poder para impor-se aos demais, agravados quando o candidato a ditador não tem caráter e nem respeito ao próximo.
Pessoas desprovidas de caráter; que são alçadas aos mais altos postos do governo; que estão no topo da pirâmide social; cheias de empáfia, de poder e de vaidade; que se julgam semideuses ou acima do próprio Deus e, portanto, acima das próprias leis que deveriam respeitar, cometem os maiores absurdos por aquilo que acham que deveria ser e baixam ordens a seu bel-prazer ou para favorecer amigos e cúmplices. Ditadura é isso: impor a vontade pessoal a outrem à revelia das leis.
Muitas vezes, alegam que a medida se destina a me proteger e a proteger o meu bem-estar, como se incapaz eu fora. Cerceiam-me direitos e a liberdade em nome de MEU bem-estar e de MINHA liberdade.
A ditadura pode existir em farmácias, em prefeituras, em governos estaduais, no Legislativo, no Executivo, no Judiciário, nas mais altas cortes do País e até em âmbito mundial.
- Briguei, esperneei, reagi, argumentei, expus o absurdo da ordem e a farmacêutica concordou em aplicar-me a injeção e até se propôs a levar meus questionamentos à direção da farmácia.
Somente conseguem impor a vontade mandona, desrespeitosa e prepotente sobre nós quando a ela nos submetemos docilmente.
Cláudio Duarte
Colunista do PORTALIMULHER
1 comentário
Somente nos são impostas regras, descabidas de qualquer lógica, quando admitimos.
Se sentimos, dentro do nosso direito, devemos reagir contra, sempre dentro de um padrão de respeito.