Domitila de Castro Canto e Melo, Marquesa de Santos.
O nome Domitila de Castro Canto e Melo pode lhe ser desconhecido, porque ela é mais conhecida como Marquesa de Santos, a amante de D. Pedro I.
Há pechas que costumam usar para definir alguém e passam a definir a pessoa preconceituosamente. Fala-se de Domitila como “amante de D. Pedro I”, e a maioria das pessoas se satisfaz com a definição, como se aquilo definisse a sua vida e a sua história.
A história de Domitila vai além do fato de ela ter sido amante de D. Pedro.
Domitila de Castro Canto e Melo nasceu em São Paulo, em 27 de dezembro de 1797, filha de família influente e tradicional, e faleceu em 3 de novembro de 1867, aos 69 anos de idade.
Em 1813, quando tinha 15 anos de idade, o pai arranjou-lhe casamento com um oficial do Corpo de Dragões de Vila Rica, que tinha 22 anos.
Os casamentos de conveniência, arranjados pela família, eram comuns na época. Além de dinheiro e prestígio social, seu marido ocupava cargo importante como militar e tinha chances de crescer na hierarquia.
O casamento foi um desastre, pois ele era alcoólatra, viciado em jogos e violento com sua esposa. Ela teve 3 filhos.
Os maus-tratos e as agressões constantes do marido fizeram com que, em 1816, Domitila voltasse para São Paulo com os filhos.

Em 1818, o marido prometeu corrigir-se e Domitila reatou com ele. Ele não mudou, e as agressões continuaram. Como Domitila demonstrou querer o divórcio, ele tentou matá-la, esfaqueando-a.
Domitila levou dois meses para recuperar-se da agressão, separou-se definitivamente do marido e ficou morando em São Paulo, onde conheceu D. Pedro em agosto de 1822, dias antes da independência do Brasil e antes de D. Pedro ter sido coroado imperador do Brasil.
O pesquisador Paulo Rezzutti cita que Domitila esteve presente, como amante de D. Pedro, na viagem durante a qual ele deu o grito da independência.
Domitila mudou-se para o Rio de Janeiro em 1823, e seu caso com D. Pedro rendeu-lhe títulos e riquezas. Em 1826, ela tornou-se a Marquesa de Santos. O casal teve cinco filhos.
Nem tudo foram flores para Domitila. Ela era mal vista na Corte e até teve propriedades apedrejadas. Seu infortúnio aumentou com a morte prematura da imperatriz Leopoldina, esposa de D. Pedro, em 1826.
Leopoldina sentia-se humilhada com a relação de D. Pedro com Domitila, e a humilhação aumentou depois que D. Pedro nomeou Domitila como dama de companhia da imperatriz.
A partir do final de 1825, a saúde da imperatriz Leopoldina debilitou-se rapidamente, com sinais típicos de depressão: cólicas, vômitos, sangramentos e delírios frequentes. Ela era muito querida pelos brasileiros e era mais popular que o próprio D. Pedro.
A morte da imperatriz fez com que Domitila perdesse mais popularidade. Correram boatos de que ela envenenara a imperatriz.
Em descrédito, D. Pedro procurou outra mulher para casar e definitivamente separou-se de Domitila, que foi residir em São Paulo.
Em 1833, Domitila iniciou relacionamento com Rafael Tobias de Aguiar, com quem se casou em 1844. O casal teve seis filhos, e o relacionamento deles durou 24 anos; terminou com o falecimento dele em 1857.
Ao longo de sua vida, Domitila teve 14 filhos, sendo que oito alcançaram a idade adulta.
Domitila foi muito mais que a Marquesa de Santos, amante de D. Pedro.
Na velhice, ela usou parte da fortuna para ajudar quem necessitava. Socorria desamparados e famintos. Protegia e ajudava os miseráveis. Era devota e caridosa.
Doou grande quantia para a Guerra da Cisplatina (1825-1828). Durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), abrigou em sua fazenda a tropa que marchava para o Mato Grosso e presenteou soldados e oficiais com dinheiro.
Extremamente caridosa, foi uma das pessoas que ajudou a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo a ter a sua primeira sede própria.
Doou dinheiro para a construção de uma casa para dispensário médico e para a construção da capela do Cemitério da Consolação.
Ajudou estudantes de Direito da Faculdade do Largo São Francisco e cuidava deles quando adoeciam.
Deixou em testamento dinheiro para a compra de paramentos e utensílios litúrgicos para a capela do cemitério municipal e dinheiro como esmolas para a “pobreza envergonhada”.

Domitila de Castro Canto e Melo está sepultada no Cemitério da Consolação e se transformou em santa popular, a quem as pessoas recorrem pedindo graças, principalmente em causas relacionadas ao amor e a relacionamentos, em razão de haver conseguido bom casamento e reestruturar-se após o relacionamento conturbado com D. Pedro I.
A Marquesa de Santos foi muito mais que a “amante de D. Pedro” e merece ser lembrada como uma pessoa boa, caridosa e humana, que deixou bens para escravos e para a cidade de São Paulo.
Em seu túmulo há placas de agradecimento por graças alcançadas.
2 Comentários
Cláudio, ao ler esse texto exemplarmente escrito, também me surpreendi com as informações sobre a vida da Marquesa de Santos.
Que história! Quase toda mulher se casa pensando que é para sempre…
Vítimas de maridos frustrados que e joga sobre ela toda a sua ira. Se tornar a amante do Imperador foi um golpe de sorte ou azar, onde ela se depara com uma mulher virtuosa como a Imperatriz. A Igreja de São Cristóvão foi erguida para ela exercer a sua fé, com túneis que iam até o Palácio Imperial no Quinta da Boa Vista. Assim , o Imperador a acompanhava às missas de domingo. Não sabia de sua vida após o fim de seu romance com D Pedro. Grande mulher! Grande Revista!
Parabéns!