As expressões populares refletem a cultura, sentimentos ou reflexões do povo. A origem delas remontam a fatos, costumes ou hábitos da população.
Significado da expressão “será o Benedito?”
A expressão popular significa surpresa, aborrecimento, desgosto ou perplexidade diante de um fato novo ou desagradável.
Origem da expressão
O Portal iMulher publicou na semana passada a primeira versão sobre a origem da expressão. Veremos hoje a segunda versão.
Esta versão se baseia na história de Benedito Caravelas, apelido Benedito Meia-Légua, um dos maiores líderes quilombolas do Século XIX, que libertou muitos escravizados durante sua vida.
Benedito Caravelas (1805 – 1885) nasceu em Villa Nova do Rio de Sam Matheus (ES), foi um escravizado que se insurgiu e tornou-se líder quilombola. Ele atuou no estado do Espírito Santo, na região compreendida entre os atuais municípios de São Mateus e Conceição da Barra. Suas andanças lhe conferiram o apelido “Meia-Légua”.

Líder de um grupo de escravos que libertou, atuava libertando outros escravos. Ele andava com a imagem de São Benedito, seu santo protetor, a qual serviu para criar uma lenda em torno dele.
Benedito Meia-Légua liderou grupos de escravos insurgentes que invadiam as senzalas, libertava outros negros, saqueavam fazendas. Com isso, levava pânico aos escravagistas do Espírito Santo e causava-lhes prejuízos.
Estrategista criativo, Benedito criava grupos pequenos que atacavam diferentes fazendas simultaneamente, todos os homens vestidos como ele se vestia. Assim, os fazendeiros ficavam confusos e não descobriam seu paradeiro.
Os grupos pequenos impediam o aprisionamento de muitos de seus homens de uma só vez.
Ele foi capturado algumas vezes e, como seu grupo atacava em outros lugares, ele parecia que ele estava em diferentes lugares. Com isso, criou a fama de imortal, protegido de São Bendito.
Sempre que havia ataques a uma fazenda, os fazendeiros logo se perguntavam “será o Benedito?” e assim surgiu a expressão popular.
A lenda de imortal cresceu depois que Benedito foi preso e levado para São Mateus amarrado pelo pescoço e puxado por um capitão do mato montado a cavalo. Surraram-no.
Benedito foi dado como morto de tanto que apanhou e foi levado para a capela do cemitério dos escravos na Igreja de São Bendito.
No dia seguinte, quando os outros escravos foram fazer seu enterro, o corpo dele havia desaparecido e, em seu lugar, havia apenas rastros de sangue. Benedito fugiu uma vez mais.
Por mais de 40 anos, Benedito Caravelas e seu quilombo resistiram aos escravagistas.
Morte de Benedito Meia-Légua
Benedito foi morto já idoso, com 80 anos. Manco e doente, ele dormia em um tronco oco de árvore. Um caçador denunciou o esconderijo de Benedito a seus perseguidores que ficaram à espreita esperando que Benedito se recolhesse para dormir.
Assim que Benedito se recolheu ao tronco, os perseguidores tamparam o tronco e atearam-lhe fogo. Em meio às cinzas, encontraram a imagem de São Benedito que ele carregava consigo.

Legado de Benedito Meia-Légua
A história de Benedito deixa exemplos de coragem, de luta pela liberdade, de ousadia e de defesa de seus irmãos. Ao longo da história, o Brasil teve heróis a lutarem pela liberdade; somente não os tem no Século XXI.
Em janeiro, o cortejo de Ticumbi, manifestação cultural afro-brasileira do Espírito Santo e patrimônio cultural imaterial do Estado, busca a pequena imagem do São Benedito do Córrego das Piabas e a leva até a igreja de Santo Expedito para relembrar a memória de Benedito Meia-Légua.
O Brasil pouco ou nada conhece da história de resistência, coragem e luta de Benedito Meia-Légua.
