Lá pelos idos de 1980, uma marca de cigarros fez propaganda na imprensa anunciando que o freguês “levava vantagem” na compra daquela marca e terminava dizendo “leve vantagem você também”. A expressão ficou guardada no país como símbolo do “jeitinho” (malandro) brasileiro, e o próprio jogador de futebol, que a fez, não gosta nem que se comente o assunto com ele.
Não há sociedade que sobreviva se todos quiserem levar vantagem em tudo que fazem; a sociedade sobrevive assentada sobre leis que asseguram a convivência harmônica de todos.
Se todos quiserem “levar vantagem”, prevalecerá a lei do mais esperto ou do mais forte. O espírito comunitário, o respeito às leis e a civilidade garantem o bem estar de todos, dando a cada um o que é seu e sem que ninguém deva “levar vantagem”.
São muitos os exemplos de que o “levar vantagem” acaba por prejudicar a todos e até ao próprio esperto. Num bairro de classe média em São Paulo, os 15 moradores de uma rua viviam inseguros com assaltos e resolveram contratar empresa de vigilância, que todos pagariam com parcela irmãmente dividida entre eles. Foi escolhido o gestor para recolher o dinheiro dos moradores e fazer o pagamento aos vigilantes.
Ao final do primeiro mês, o gestor cobrou a parcela dos 15 moradores. 14 pagaram; um “esperto”, que quis levar vantagem, não pagou. Como os outros haviam contribuído, ele considerou que não precisava pagar a parte que lhe cabia e ainda iria usufruir da segurança paga pelos demais. Todos reclamaram da esperteza do morador, e a vida continuou.
No mês seguinte, apenas 13 moradores pagaram. Um dos moradores alegou que, como o outro não pagou, ele também não pagaria. No mês seguinte, apenas 12 pagaram. Até que não houve mais receita para pagar os vigilantes. O serviço de vigilância foi desfeito, e a rua, novamente desguarnecida, voltou a sofrer assaltos.
Este fato bem representa o prejuízo de todos por conta de um “espertalhão” que quis levar vantagem e que, além de prejudicar os demais, se tornou vítima da própria esperteza. Como este, deve haver casos similares em outras cidades.
Nós, brasileiros, não somos rígidos no cumprimento das leis e nem as leis são usadas para proteger a sociedade de bem. Basta ver os corruptos, traficantes, assassinos e ladrões postos em liberdade em nome de leis benevolentes. Com isto, os cidadãos de bem não têm segurança para viver, trabalhar e produzir.
A sociedade de bem tem que ser protegida, e os bandidos, que vivem às margens da lei, sejam postos em presídios e lá cumpram suas penas. E que haja menos benevolência e tolerância para com bandidos.
Somente o fiel cumprimento da lei por parte de todos – todos são iguais perante a lei – e a aplicação severa da lei penal garantirão sociedade civilizada, organizada, que viva em segurança e que alcance progresso e prosperidade.