A Dica Cultural desta semana traz o filme que bateu o recorde de maior número de horas de stream para um título da Netflix dentro de uma mesma semana. Entre 27 de dezembro e 2 de janeiro, a comédia “Não olhe para cima”, dirigida por Adam McKay, foi assistida por 152,29 milhões de horas pelos usuários da plataforma. Quem dá a dica é o nosso colunista Cláudio Duarte. Confira!
Não olhe para cima [Adam McKay]
O filme “Não olhe para cima” impressionou-me. Indico-o.
O filme mostra com crueza a sociedade atual. Daqui a 100 ou 200 anos, as pessoas assistirão ao filme e perguntarão se a sociedade dos anos 2020 era assim mesmo. Se tiverem evoluído, claro. Ou entenderão por que se tornaram naquilo que vierem a ser.
O filme conta a história de Kate Dibiaski, candidata a doutorado, que descobre um cometa de 5 a 10 quilômetros de diâmetro que se chocará com a Terra em seis meses e causará a extinção em massa da vida no planeta.
Ela e o professor orientador, Dr Mindy, são encaminhados para falar com a presidente dos Estados Unidos. Evidentemente, não poderia haver evento ou informação mais importante que esta, mas a presidente os faz esperar por 24 horas. Nesse período, ela comemora o aniversário de sua secretária junto com puxa-sacos, está preocupada com a indicação de um ministro para a Suprema Corte, está voltada para as eleições parlamentares que ocorrerão dali a três meses e outras circunstâncias políticas momentâneas.
O General Themes, do Pentágono, que acompanha os professores, diz uma frase lapidar: Tudo é política. Ironicamente, a frase parte de um general, que deveria ser o mais preocupado com a defesa do país.
Depois de ouvir os professores, a decisão da presidente foi “esperar e avaliar”. Ela não quis divulgar a notícia; dizer que as pessoas morreriam em breve prejudicaria sua imagem e o resultado das eleições que ocorreriam em três meses.
Os professores vão a um programa de TV, no qual são ridicularizados e, durante o programa de entrevistas, as pessoas dão maior importância ao rompimento do namoro de uma cantora com um DJ. O programa alcança picos de audiência com a fofoca da cantora; os telespectadores não deram credibilidade à notícia dada pelos astrônomos. Fazem memes nas redes sociais com a imagem deles, hostilizando-os.
A notícia faz surgir correntes diferentes: a dos que acreditam no estudo (Olhe para cima) e a dos que não acreditam (Não olhe para cima).
Apesar de ter sido a candidata ao PhD que descobriu o cometa, que recebe o nome dela, Kate Dibiaski passa a ser ignorada pelo professor, que adquire maior notoriedade que ela. Ele era o professor, e ela, candidata ao doutorado. A vaidade lhe sobe à cabeça. Ele foi capa de revistas, teve aumentado o número de seguidores na internet, foi convidado para integrar a equipe da presidente dos Estados Unidos. Além disto, começa a ter um caso com a repórter do programa de TV que o entrevistou. Ela deixa Kate Dibiaski no ostracismo.
Há uma cena memorável. O professor na cama com a repórter, ambos se “dando a conhecer”. Ela fala que teve casos com dois ex-presidentes e que tem um Monet. Ele fala que o cachorro dele havia morrido e que chorou muito. Ora, se dar a conhecer é falar de si, de seu íntimo, de seus sentimentos, angústias e carências. Mas eles falam de superficialidades, como se isto fosse se dar a conhecer, o que bem demonstra a frugalidade e o desprezo pelo interior das pessoas atualmente.
A Nasa lança foguetes e drones para explodir o cometa, mas a presidente dos Estados Unidos aborta a missão, porque seu principal financiador de campanha está interessado nos minerais existentes no cometa e quer explorar os minerais em benefício de sua empresa.
Aí, surgem outros grupos: o que defende a explosão do cometa e o grupo que quer explorar o cometa em busca de minerais que garantirão emprego e riqueza, pouco se importando com o risco de extinção em massa da vida.
Outra cena marcante. No jantar em família, a prece foi feita por quem menos se espera: um jovem skatista que, diante de doutores que não sabem orar, faz sensível e comovente prece. Títulos, doutorados, posições sociais nada valem sem a fé, mormente em momentos de perigo.
Enxerguei o mundo atual no filme. Tristes realidades!
Somos assim. Estamos assim. Até que evoluamos. Ou que o cometa Dibiaski extinga a vida na Terra para fazer começar nova “civilização”.
Ficha Técnica
Data de lançamento: 9 de dezembro de 2021 (Brasil)
Diretor: Adam McKay
Orçamento: 75 milhões USD
Distribuidor: Netflix
Elenco traz Jennifer Lawrence, Leonardo DiCaprio, Meryl Streep, Cate Blanchett, entre outros
Trailer:
1 comentário
Filme muito bom. E bem descrito neste post. Eu achei muito emocionante a cena da prece na mesa e considero esta cena como o final 1 do filme. Valeram minhas duas horas investidas.