As mulheres vêm ganhando espaço em áreas antes predominantemente masculinas.
Algumas áreas do mercado, antes predominantemente masculinas, vêm sentindo a força das mulheres. Uma dessas áreas era a do futebol. Emissoras estão contratando comentaristas mulheres e locutoras de jogos de futebol, de vôlei e de basquete.
Outro setor do futebol, antes masculino, a de agenciação de jogadores – que envolve troca e venda de jogadores e assinatura de contratos – passou a contar com uma mulher e que vem se destacando no mundo futebolístico brasileiro e europeu: Rafaela Pimenta.
No início dos anos 2000, Rafaela lecionava Direito Internacional em universidade pública brasileira, quando conheceu o empresário Mino Raiola, agente de importantes jogadores do futebol mundial. A dupla montou em Mônaco uma empresa de negociar jogadores, que gerenciava cerca de 30 jogadores.
No começo, ela enfrentou muito preconceito em razão de ser mulher e de ser agente de jogadores. Ela era apresentada como “advogada” da empresa.
Os clubes consideram os agentes como exploradores, que querem sugar o seu dinheiro. A imprensa, pelo menos a brasileira, chama os agentes de “cartolas”, meros burocratas do esporte, que vivem à custa dos jogadores e times sem nada produzir de útil para o futebol.
Os homens agenciadores, que dominavam o ambiente e que, por isso mesmo, tornou-se machista, pensavam que eles eram os únicos que sabiam das coisas e ignoravam-na.
Ela enfrentou maiores dificuldades quando seu sócio, Mino Raiola, faleceu em abril de 2022.
Na ocasião, outros agentes ofereceram-lhe apoio. Rivais telefonaram para jogadores, que ela agenciava, oferecendo-lhes serviço, pois Raiola havia falecido. Alguns desses, que tentaram aplicar-lhe “rasteira”, eram colaboradores da própria agência que cuidavam de obrigações menores e queriam projetar-se.
Contudo, os jogadores permaneceram-lhe fiéis, e ela decidiu continuar com a agência, enfrentando o mundo sozinha. Atualmente, é a presidente da Agência One.
O trabalho dela como agente de jogadores não negocia venda e contrato de jogadores somente. Ela planeja as férias deles, orienta-os sobre onde e como investir o dinheiro de modo a evitar que invistam em esquemas duvidosos sugeridos por amigos. Recentemente, a imprensa noticiou que o jogador Gustavo Scarpa entrou na Justiça após alegar golpe milionário das criptomoedas, nas quais investiu por indicação de outro jogador, colega de time, e teve prejuízo acima de 10 milhões de reais.
Agenciar jogadores não é tão fácil como parece. Segundo Rafaela, o processo de transferência do jogador de um clube para outro é feito com antecedência, por vezes 2 a 3 anos antes de efetivar-se. É preciso estar em sintonia com o clube para concretizar o negócio, para que o clube se planeje financeiramente para arcar com as despesas futuras.
Ela passa o ano pelos clubes, conversando, planejando transferências, sondando sobre quem irá se aposentar, sobre os jogadores que estão ficando velhos, os que estão lesionados, os que não estão rendendo o esperado, sobre qual jogador o time precisa.
Ela compara sua atuação como o jogo de xadrez, em que ela tenta antecipar as jogadas. Para isso, tem de conhecer as peças, os times e as demandas, naturalmente sabendo o que tem a oferecer.
Evidentemente, ela conta com equipe de auxiliares, porque as necessidades dos jogadores de futebol tornaram-se muito mais complexas para que uma só pessoa consiga atendê-las bem.
Rafaela mantém a vida privada com total discrição. Não se sabe se é casada, solteira e nem mesmo sobre seu patrimônio. Essa conduta é coerente com a carreira de agente de jogadores, que age nos bastidores.
Em 2022, Rafaela Pimenta foi a ganhadora do prêmio “Golden Boy”, de Melhor Agente de Jogadores Europeus do ano. A premiação é uma iniciativa tradicional do jornal italiano Tuttosport.