O mundo inteiro não fala em outra coisa senão Metaverso! E o que é isso? A empresa Facebook mudou o nome da sua holding para Meta, tem algo a ver? Isso é algo novo? Tem a ver com Criptomoedas, bitcoin e essa nova economia? Todas essas e outras perguntas é que iremos tentar responder neste e no próximo artigo.
Acho que o melhor é já tentar mostrar de forma objetiva e clara o que é o Metaverso; e veremos a seguir que ele não é algo novo, tampouco foi inventado pelo Facebook.
Metaverso, segundo N. Stephenson[1]:
O Metaverso é um mundo de simulação, uma representação gráfica tridimensional e dinâmica que os usuários acessam usando óculos e fones de ouvido e conectando-se, por meio de seus computadores ou terminais públicos, à rede global de fibra ótica.
Ainda complicado? O Facebook nos fez um grande favor e fez este vídeo,[2] explicando um pouco como eles enxergam esta nova tecnologia e o seu uso.

Em outras palavras, estamos chegando num ponto de inflexão em que toda a infraestrutura de comunicação e internet, assim como os processamentos de dados e servidores, passaram de ficção científica à realidade: o mundo físico está se encontrando com o mundo digital.
Veja bem, o Metaverso não é, de forma simplista, apenas o mundo digital, muito além disso. Inicialmente o imaginávamos como sendo apenas digital, mas já chegamos num ponto em que entendemos que uma coisa não se distingue da outra e ambas convivem juntas.
Isso nos leva ao primeiro ponto central da nossa conversa, que é o surgimento do Metaverso.
A origem e história do Metaverso
Ele começou na literatura e destacam-se dois livros: Dungens and Dragons, de 1974, e Neuromancer, de 1984. Enquanto o primeiro introduz a ideia do RPG[3], onde a gente entra em mundos de fantasia e assume papéis de personagens imaginários, o segundo livro traz um personagem principal usando uma tecnologia que o transporta para outro mundo, onde seu frágil corpo físico é capaz de tudo.
Ainda na década de 1980, início de 1990, se popularizaram os jogos interativos text-based, como AberMUD e DikuMUD, de 1987 e 1990, respectivamente. Na sequência, o livro Snow Crash, de 1992, traz o termo Metaverso cunhado onde humanos, como avatares, interagem uns com os outros e agentes de softwares, em um espaço tridimensional que usa a metáfora do mundo real.[4]
Com a evolução dos computadores, nada mais natural que começássemos a ver e interagir com estes mesmos mundos em MMOG[5], tendo como os dois primeiros destaques os jogos Active World e Onlive Travaler, de1995 e 1996, para somente então termos o lançamento dos jogos Second Life (2003, desenvolvido pela Linden Lab), Roblox (2004, Roblox Corporation) e Minecraft (2011, Mojan Studios), além de muitos outros que contam com um universo próprio e em constante crescimento. Ainda que cada um deles possua suas especificações, hoje em dia eles praticamente se retroalimentam.
Uma vez que muitos jogos online multijogador massivos, conectando milhões de jogadores, compartilham recursos com o Metaverso, mas apenas fornecendo acesso a instâncias não persistentes de mundos virtuais que são compartilhados apenas por várias dezenas de jogadores, o conceito de mundos virtuais multiversos foi usado para distingui-los do Metaverso.[6]
Já na década de 2010, com toda a evolução da tecnologia de Realidade Aumentada e Realidade Virtual, vimos lançamentos de jogos como Pokémon GO (2016, Nyantic), VR Chat (2017 ) e Super Mario AR (2017, Nintendo), em que mais do que nunca os dois mundos começaram a colidir e coexistir, de uma forma que a gente começou a não separar tanto, mas, sim, integrar em nosso dia-a-dia da mesma forma como integramos o uso da rádio, do telefone, da TV e mais recentemente da internet, sem desgrudarmos da telinha do celular nunca mais.
Metaverso e Blockchain
Em 2007, uma pessoa com o pseudônimo de Satoshi Nakamoto publicou um artigo[7], descrevendo uma nova tecnologia de moeda digital descentralizada com uso de tecnologia Peer to Peer, e com uso de criptografia que viria a acabar com a dependência de terceiros, como bancos.
Este marco é importante, pois é a partir do Bitcoin que a gente sai da Internet das Coisas para a Internet do Dinheiro, com a resolução do Problema dos Dois Generais Bizantinos, mas isso a gente conversa numa outra oportunidade.
Nesse ponto, o surgimento do Bitcoin não pode ser considerado meramente como avanço tecnológico, mas também como uma reforma política, com objetivos claros de descentralização do sistema monetário tradicional.[8]
Tal reforma implica diretamente na reorganização dos sujeitos de direito, deslocando e substituindo os “terceiros intermediários”, cuja função serviria como pilares de confiança. Uma vez mais a realidade é alterada para uma nova Era das Máquinas, da sociedade da informação.
Assim, conforme os anos foram se passando (de 2008 aos dias atuais), se por uma esteira havia a evolução dos mundos virtuais (os metaversos), na outra vinha ocorrendo a evolução da Internet do Dinheiro com as criptomoedas, até chegarmos ao ponto onde essas duas se encontram.

[1] Texto original: “[…] Il Metaverso è un mondo di simulazione, una rappresentazione grafica tridimensionale e dinamica alla quale gli utenti accedono indossando occhialoni e auricolari e connettendosi, attraverso i loro computer oppure terminali pubblici, alla rete a fibre ottiche globale.” (N. Stephenson, Snow Crash, Bantam, New York 1992, tr. it. Snow Crash, Bur, Milano 2007, p34.)
[2] META, Facebook. Gaming in the metaverse. 2021. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5FwztKGQmd8>
[3] WIKIPEDIA. “Role-playing game, também conhecido como RPG, é um tipo de jogo em que os jogadores assumem papéis de personagens e criam narrativas colaborativamente. O progresso de um jogo se dá de acordo com um sistema de regras predeterminado, dentro das quais os jogadores podem improvisar livremente”. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Role-playing_game>
[4] Grimshaw, Mark (2014). The Oxford Handbook of Virtuality. Nova York: Oxford University Press. p. 702
[5] WIKIPEDIA. “Um jogo de interpretação de personagens online e em massa para multijogadores (Massive Multiplayer Online Role-Playing Game) é um tipo de jogo on-line que suporta uma quantidade muito grande de jogadores simultâneos, a qual pode chegar a milhões, além de um ambiente de interação de estado permanente. Isso significa que todos os jogadores interagirão com o ambiente virtual do jogo ao mesmo tempo e em tempo real, e que esse mesmo ambiente continua funcionando inclusive na ausência do jogador. Esse gênero permite aos jogadores a criação de personagens em um mundo virtual dinâmico online.”
[6] Peckham, Eric (25 de fevereiro de 2020). “Um multiverso, não o metaverso”. TechCrunch. Recuperado em 2021-04-02 .
[7] NAKAMOTO, Satoshi. Bitcoin: Um Sistema de Dinheiro Eletrônico Peer-to-Peer. 2007. Disponível em: <https://bitcoin.org/files/bitcoin-paper/bitcoin_pt_br.pdf>
[8] HUGHES, E. A., 2017 apud JIA, Kai; ZHANG, Falin. Between liberalization and prohibition: prudent enthusiasm and the governance of Bitcoin/Blockchain technology. In: CAMPBELL-VERDUYN, Malcolm. Bitcoin and beyond: cryptocurrencies, Blockchains, and global governance. London: Routledge, 2018. p. 92.