Mais um sonho realizado: navegar no Nilo; selfie com as pirâmides ao fundo; explicações sobre dezenas de deuses e de ruínas de templos; admirar as riquezas da tumba do faraó Tutankhamon….
Ser enganado por vendedores em cada esquina; loja ou quiosque não faziam parte dos meus sonhos.
Sentindo-me um estranho extorquido pelos egípcios, decido ir embora.
Último pesadelo da viagem, sair do Cairo via aérea. O pesadelo tem início com a chegada ao aeroporto e o assédio de carregadores para arrebatar as malas a pretexto de ajudá-lo no check-in. A meio caminho do guichê, abandonam a bagagem ao solo e exigem pagamento, alegando não poderem ir além.

A extorsão tem início. Primeiro, querem receber em dólar ou euro. Não embarque nessa! Mudam para liras, no mínimo 100 por carregador.
Enquanto você discute o acerto, uma segunda turma já se apoderou de seus pertences para levá-los até o check-in de malas, onde as põem no chão e exigem receber. Nova extorsão.
Uma terceira equipe, agora uniformizada, parecendo funcionários do aeroporto, se encarrega de introduzir as malas nos scaners, enquanto outros reclamam sua atenção para conferência de bilhetes e passaportes. Tente estar atento a duas coisas, ou melhor, a três, pois haverá uma quarta turma, do outro lado, retirando seus pertences de dentro da mala (aí incluídos: calçados, cintos, abrigos, bolsas, sacolas…).
Não bastasse a confusão até agora, despacho de bagagem masculina e feminina funciona em guichês distintos. Sem identificar qual é qual não se consegue ir adiante.
Minha novela: eu com os bilhetes e minha esposa com os passaportes; eu do lado dentro, ela retida fora. Após difíceis e penosas explicações, ela consegue passar.
Bagagem despachada, respiro aliviado! Fim de complicações, penso.
Falta ainda o check-in de pessoa e a checagem da bagagem de mão.
Na minha frente, um casal indiano rodeado de crianças trava a fila. Após orientações e idas e vindas, a mulher e as crianças vencem o Mar Vermelho pra sair da terra dos faraós. O “Moisés” fica por último. Primeira tentativa, scaner apita. Retorna e revista bolsos, sacando alguns centavos de rúpia. Segunda passagem, novo apito e retorno.
–Take off your belt!, ordena um funcionário.
O indiano retira o cinto, segurando as calças pelo cós.
– Arms up, go on! (nova ordem…)
Ao levantar os braços para entrar no scaner, o rajá solta as calças que vão ao solo revelando uma “samba canção” decorada com bichinhos coloridos.
Impossível não rir.
Perco o foco. Passo a ficar preocupado com minhas calças, meto o cinto enquanto me dirijo a um café.
Minutos depois, enquanto saboreio um legítimo café brasileiro, percebo corre-corre na área. Alguma emergência, penso.
Abaixo para pegar a bagagem de mão e não a encontro. Mala abandonada. Atentado em vista, só pode ser.
Me vejo terrorista! Me sinto terrorista!
Vou em sentido contrário à turba. Contido pela segurança.
Gasto inglês, francês, espanhol, italiano e até um pouco de árabe pra conseguir convencer a me deixarem abrir a maleta isolada em um canto do ambiente. Insiro senha, abro e retiro alguns pertences. Olham dentro e com cara não muito amistosa apenas me revistam e liberam.
– Excuse me! Digo sem graça.
O pior ainda estava por vir, o sermão doméstico:
– Terrorista!
– Vão acabar matando você aqui. Fica rindo dos outros e esquece o que tem que fazer!
Isso só pode ser maldição desse Tutankhamon… ………………………..………………………………………………………………………. (censurado….).
José Salviano de Souza.
Capitão Veterano do Exército, Bacharel em Letras pela PUC/MG0, cronista e colaborador do PortalIMulher.
2 Comentários
Hilário mas trágico !!! 😂
Estou muito bem no meu Brasil na minha terra e com meu povo,se tem paixão me acompanha