Em conversas com amigas, tenho percebido que um problema que atinge a humanidade, desde sempre, se tornou mais latente durante a pandemia, período em que todos ficamos mais frágeis: a insegurança feminina. Sei que insegurança não é uma questão de gênero, mas parece que as mulheres são muito mais exigentes consigo mesmas. Na adolescência, se tiverem um date marcado e aparecer uma espinha no rosto já é aquela choradeira. A situação assume contornos trágicos: ‘Ele não vai mais me querer. Sou horrorosa!’.
Na vida adulta a história se repete. A faculdade, o primeiro emprego, o casamento. Tudo é motivo para insegurança. Medo de não ter um bom desempenho no curso escolhido; de ser demitida a qualquer momento; de ser traída, rejeitada ou abandonada num relacionamento; medo de ter filhos. São tantos os motivos que levam a ‘dita insegurança’ que chega a cansar só de ler.
Estudos confirmam que existem diferenças significativas de insegurança entre homens e mulheres. As mulheres, sem generalizar, têm a autoestima mais baixa que os homens e uma opinião muito crítica quanto a forma física e o estado emocional. Além disso, a grande maioria ainda acredita que precisa de um relacionamento para ter validação na vida. Que mulher acima dos 30 anos já não foi em uma reunião familiar e ouviu a célebre pergunta: “Não se casou ainda?”.
Um pouco dessa insegurança tem origem na cobrança insana da sociedade em cima da mulher e, também, nas crenças religiosas que, muitas vezes, a incentivam a ser vítima ou uma pessoa submissa. Assim, elas acabam se acostumando com menos, porque é ‘virtuoso’ ser assim. Elas guardam os seus desejos num saco e seguem a vida, colecionando frustrações. Enquanto os homens, novamente, sem generalizar, são mais inseguros com relação ao seu conceito familiar, acadêmico, desempenho sexual e condição financeira. Mas, em uma proporção bem menor do que as mulheres.
Porém, entre tantas coisas que aprendi com a idade, uma delas é que a insegurança, seja ela qual for, tem apenas uma origem: a baixa autoestima. E esse é um problema que devemos resolver conosco. Ninguém faz parte desse projeto do resgate de quem somos. Motivos para termos medos sempre surgirão em nossas vidas. A pessoa insegura pode receber mil elogios no emprego e ter o parceiro mais dedicado, mas ela sempre acreditará que não é o suficiente. Até mulheres consideradas lindas e muito competentes passam por isso.
O sentimento de que nunca somos o suficiente tem que ser bravamente combatido por nós mesmas. Como? Nos amando como queremos que o outro nos ame; valorizando todos os pontos positivos que temos e tentando melhorar aquilo que não gostamos tanto, e, principalmente, aceitando que mesmo dando o nosso melhor, situações chatas sempre acontecerão em nossas vidas. Não podemos controlar tudo, mas está em nossas mãos decidir como reagir a cada rasteira que levamos na jornada, que são muitas.
Você pode estar se perguntando os sintomas de uma pessoa insegura. Então confira quais são os mais comuns e observe se está se identificando com eles:
- Viver constantemente preocupada se a pessoa amada vai te deixar, trair ou rejeitar;
- Medo de que as coisas acabem, mesmo estando tudo muito bem;
- Permitir que sua felicidade dependa única e exclusivamente do seu parceiro, do seu emprego ou de algum hobby;
- Nível de exigência muito alto com o corpo;
- Pensamentos negativos sobre a própria imagem;
- Intolerância e incapacidade de decidir algo, com medo de errar.
Só um lembrete: se você não errar nunca vai saber se acertou, ou seja, não viverá na plenitude em todos os campos de sua vida. Errou? Levante, sacuda a poeira e siga em frente!
Algumas pessoas vão dizer: “Nossa, do jeito que você está falando parece até que não tem coração”. Vão indagar: “Você não sente nada?”. Diga: “Sinto, e sinto muito, de forma intensa, e sofro muito também. Tenho medos, mas não deixo que eles me paralisem”. Um pouco de insegurança todas e todos nós temos, o que é bom, porque nos ajuda a sermos cautelosos em algumas situações. O que não podemos permitir é que a insegurança seja gerente de nossas vidas e nos deixe sempre em estado de alerta, confusos, frustrados e com medo de tudo. E o mais importante: não deixe que um relacionamento seja a base de sua vida; tenha equilíbrio, valorize interesses próprios, cultive hobbies e sonhos só seus.
A proposta não é ficar só. Ter alguém é maravilhoso, claro, principalmente quando esse alguém é parceiro e fortalece a melhor versão de você. Mas, todavia, contudo, entretanto…ser sua melhor versão significa ter uma vida interessante e completa. Viver em meio as coisas que você gosta, seja carreira, filantropia, animais, bons amigos, família ou qualquer coisa que a faça feliz.
Acredite, se você tiver uma vida encantadora que lhe preencha, terá mais tempo e equilíbrio para se dedicar a um relacionamento saudável, sem codependência emocional e inseguranças. Afinal, você é tão fantástica, por que o outro não vai querer estar com você?
Depois de tantos elementos ainda ficaram dúvidas? Vou dar 2 dicas infalíveis:
- Dedique um tempo para si mesma, para entrar em contato com o seu EU;
- Adquira o hábito de se perguntar todos os dias, em qualquer situação: “Estou fazendo o melhor por mim?”.
Cuidado! Procure não tomar decisões pensando em agradar a maioria, para parecer uma pessoa bacana. Faça o que vai lhe fazer feliz e trazer paz de espírito. Concordo que não é fácil. Eu mesma pratico todos os dias e ainda assim tem momentos que me acho incapaz de decidir da melhor forma. Nessas horas paro e tenho uma conversa sincera com o meu Eu e, não raro, discutimos. Porque a insegurança quer que tomemos um caminho e o nosso EU quer outro trajeto. É uma luta diária, mas vale a pena!
10 Comentários
O texto é fantástico Lili, e traz muitas reflexões!
Muitas de nós já viraram a chave (inúmeras com a chegada da maternidade e a necessidade de encarar as nossas próprias sombras – mas isso daria uma outra coluna), entendendo o processo e indo em busca da sua melhor versão e das suas curas.
Mas vale refletir: de onde vem toda essa insegurança?!
Desde que comecei a estudar e entender a educação respeitosa, e a disciplina positiva concluo que a raiz dessa insegurança diretamente ligada a baixa autoestima se chama educação tradicional.
Se praticarmos a educação respeitosa com as nossas crianças, daremos a eles a oportunidade de crescerem sendo quem são – e não quem a gente gostaria que eles fossem – e se sentindo respeitados, amados e validados, aumentando consideravelmente sua auto estima, diminuindo ou exterminando essa sensação de insegurança e insuficiência.
Em pouco tempo de estudo e prática já percebo mudanças significativas nas minhas filhas.
E se a gente conseguisse colocar a disciplina de autoconhecimento no currículo escolar seria sensacional né?!
Afinal de contas, se conhecer faz a gente aprender a se respeitar e a respeitar o outro. E isso forma uma pessoa melhor para a vida profissional e para a sociedade.
Excelente reflexão Lilyan. Também acho q o autoconhecimento nós pouparia de muitas inseguranças. Tenho certeza que suas filhas serão mulheres melhores resolvidas do que nós, visto q estão recebendo uma educação para serem mais felizes, se aceitarem e, principalmente, se respeitarem como mulheres de valor!!👏👏👏
Concordo plenamente com suas posições, visto que se não nos amarmos plenamente em todos os sentidos dificilmente amaremos outro pessoa em sua plenitude.
Concordo plenamente! É um exercício diário. Obrigada pela contribuição.🤗
Excelente matéria.
Valéria obrigada por sempre acompanhar!
Concordo com esta reflexão de Liliane, aliás, insegurança emocional feminina é algo que atravessa gerações, por mais que a sociedade evolua em alguns conceitos. Reforço como a jornalista: mulher, seja um mundo pleno e cheio de amor pra si mesma. Quando nos bastamos, a insegurança vai embora e mil coisas boas acontecem!
É verdade Viviane. O autoconhecimento nos traz isso.
Excelente reflexão.👏👏
Obrigada por nos acompanhar!!!