A crônica “O invisível ficou visível” continua despertando lembranças agradáveis nos leitores, que as enviam, em forma de crônica, para nossa revista. Elas são publicadas para que os momentos de sensibilidade e satisfação de um leitor sejam compartilhados e vivenciados pelos demais.
O leitor Vital Abras traz a sua experiência e a sua emoção ao tornar alguém visível pela prática da caridade e pela atenção que devotou a alguém necessitado.
EU TORNEI ALGUÉM VISÍVEL
pelo leitor Vital Abras
A crônica “O invisível ficou visível” me remeteu ao final dos anos de 1960, talvez 1968 ou 1969; não me lembro com precisão.
Eu viajava de ônibus de Belo Horizonte para Marataízes, Espírito Santo. Como todo bom mineiro, ia curtir as praias do “litoral mineiro”. Entendam-me os capixabas. Ao chamar as praias do Espírito Santo de “litoral mineiro”, não estou a desmerecer o Estado deles. Antes, estou a destacar a bela integração existente entre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, pois os mineiros sentem-se em casa no Estado vizinho.
Na parada de ônibus para almoço na cidade de Ponte Nova, desci do ônibus para almoçar. Como mineiro não perde ônibus (chega à rodoviária duas horas antes do horário marcado para a viagem), por precaução sentei-me a uma mesa na calçada do restaurante, bem próxima da lateral do ônibus. Junto à porta, não haveria possibilidade de o ônibus partir e me deixar para trás.
Depois que me acomodei, o garçom do restaurante aproximou-se de mim e perguntou-me o que desejaria para almoçar. Ao mesmo tempo, fui abordado por um mendigo, que me pediu para pagar-lhe o almoço.
Imediatamente o garçom, num gesto mal educado, disse ao mendigo que se afastasse e fosse embora, pois estava a incomodar os clientes, talvez até a afugentá-los. Eu disse ao garçom que o mendigo não me incomodava e que não o tratasse de maneira deseducada.
Contra a vontade do garçom, convidei o mendigo para sentar-se à mesa e almoçar comigo. Pedi os pratos e refrigerantes para ele e para mim, almoçamos e conversamos sob o olhar insatisfeito do garçom.
Passou-se meia hora, tempo da parada no local. Eu ainda conversava com o mendigo quando o motorista se dirigiu ao ônibus e alertou-me que iríamos continuar a viagem.
Invadido por imensa alegria, paguei a conta, apertei a mão do mendigo e dirigi-me ao ônibus. No auge dos meus dezoito anos, recebi um olhar e um sorriso de agradecimento que nunca esqueci. Foram olhar e sorriso de gratidão e reconhecimento de tal intensidade que um sorriso da Giselle Bündchen para mim não me enterneceria tanto.
Hoje, aos 71 anos, ao ler a crônica, emocionei-me e confesso que deixei cair lágrimas de gratidão aos meus pais que passaram a mim e aos meus outros 12 irmãos respeito e acolhimento para com quem quer que seja.
Parabenizo o PORTALIMULHER por nos brindar com textos comoventes e humanos e por me haver permitido voltar no tempo e reviver emoções que até hoje trago no coração.
1 comentário
Sua crônica, com o texto do Padre Vieira, fortalecem a nossa FÉ!
Uma ótima leitura para um dia tão importante e carregado de reflexões.
Tenham todos vocês e leitores, um abençoado Natal, cheio de alegrias união, paz e muito Amor na vida de todos nós!