A Linha Editorial do Portal iMulher estabeleceu critérios muitos claros para a escolha de conteúdos e colunistas para a revista digital d’Elas, todos pautados pela ética e pelo respeito à liberdade de pensamento e expressão. Lembramos que nosso objetivo enquanto veículo de comunicação é expandir horizontes, estimular o pensamento crítico e conectar empreendedoras e mentes curiosas com o nosso capital intelectual.
Desde o último dia 15 o mundo ocidental se voltou para o Afeganistão, quando o Talibã tomou a cidade de Cabul no contexto da retirada das tropas dos EUA do país e da fuga do governante Ashraf Ghani. O tema não interfere diretamente no universo empreendedor, alvo do nosso trabalho, mas certamente nos afeta em dois Valores fundamentais – Empatia e Responsabilidade –, por isso nos sentimos no dever de abordar o assunto.
O imbróglio em torno da crise no Afeganistão é grande e as ações intervencionistas destes últimos anos parecem não avançar no que deveria ser o objetivo principal: construir uma Nação. Sem entrar muito no mérito da questão ou fazer juízo de valor, gostaríamos de lançar o olhar sobre um aspecto da crise: a situação das mulheres.
Em menos de 10 dias, acompanhamos pelo noticiário que a volta do Talibã ao Poder já fez retrocederem diversos direitos pré-adquiridos das mulheres. O problema vai muito além da política de burcas imposta pelo Estado. Aliás, há mulheres que enxergam o véu e a burca com bons olhos, porque se sentem mais confortáveis com ela – sinal de religiosidade. O problema desse retrocesso está na incógnita em torno do que será feito do Afeganistão enquanto Nação. Esse Estado é complexo e quanto maior a crise política pior será o acesso a assistência material e intelectual.
O que as mulheres precisam, de fato, é o fim da guerra. A pobreza, os confrontos civis e a dúvida sobre o destino do Estado Afegão são o algoz desta crise. Nem de longe defendemos regimes totalitários, mas questionamos o porquê de tantas intervenções malsucedidas ou talvez mal direcionadas nestes últimos anos. Parece que estamos todos e todas de burca. É preciso refletir sobre isso!
Direitos
Somos um portal voltado para mulheres, e enquanto não temos resposta para a equação acima gostaríamos de resgatar a premissa do trabalho da ONU Mulheres que é o conceito de Direito que todas nós mulheres temos a uma vida livre de pobreza, violência e discriminação. ONU Mulheres é a divisão da ONU pelo Avanço das Mulheres no mundo, foro que elegeu 12 importantes e amplos direitos às mulheres.
E foram além. Ciente do papel das empresas para o crescimento das economias e para o desenvolvimento humano, a ONU Mulheres e o Pacto Global criaram os 7 Princípios de Empoderamento das Mulheres. Trata-se de um conjunto de considerações que ajudam a comunidade empresarial a incorporar em seus negócios valores e práticas que visem à equidade de gênero e ao empoderamento de mulheres.
Confira, reflita e vamos contar com um desfecho melhor para mulheres e homens do Afeganistão num futuro breve.
A ONU Mulheres elegeu 12 importantes e amplos direitos às mulheres
- Direito à vida. Aqui um destaque da ação ao combater a violência, doméstica ou não. Ao longo da história, muitas mulheres perderam suas vidas sendo acometidas por atos violento
- Direito à liberdade e à segurança pessoal. Desde a Antiguidade até os dias atuais, mulheres são coagidas e mantidas reféns de seus parceiros, vivem em regime de cárcere privado e são tolhidas de ir e vir.
- Direito à igualdade e a estar livre de todas as formas de discriminação. Quem entre nós já não foi privada desse direito? Frequentemente somos comparadas, inferiorizadas, assediadas e criticadas. Criticadas pelas crenças, trajes, biótipo, origem étnica, status social, enfim…
- Direito à liberdade de pensamento. Já foi pior, mas temos muito ainda a percorrer. Há mulheres que não podem sequer se manifestar. Dirigir, emitir opinião, interagir, influenciar. Muitas vezes por tentar exercer esse direito, a Mulher e acaba vítima e tendo violado outros direitos;
- Direito à informação e à educação. Mulheres têm os mesmos direitos que os homens de acesso ao estudo. Trilhar uma vida estudantil e profissional é direito importante. Não há igualdade sem esse ponto importante. Afinal como sempre digo em palestras e em minhas consultorias, o conhecimento empodera.
- Direito à privacidade. Todos os direitos são importantes e fundamentais, mas esse é especial, pois atende necessidades mais que atuais. Muitas mulheres, pelo simples fato de se posicionarem, têm suas vidas invadidas. E como destaque as redes sociais são o caminho que elas têm mais sofrido violência. Algumas têm conteúdo pessoal e íntimo vazados e outras tantas não são respeitadas por suas escolhas ao serem achincalhadas e humilhadas.
- Direito à saúde e à proteção desta. Quantas de nossas pares morrem por não terem acesso à cuidados básicos de saúde? Nem sempre as campanhas de prevenção de câncer de mama, de colo de útero, campanhas de vacinação contra o vírus HPV, distribuição de medicação na rede pública, acompanhamento pré-natal, acompanhamento pós-parto, enfim, tantas lacunas que mulheres e meninas enfrentam no dia a dia;
- Direito a construir relacionamento conjugal e a planejar sua família. Muitas meninas nasceram condenadas a não poder sequer pensar em suas escolhas. Muitas delas quando mulheres foram ceifadas no direito tão importante que é escolher um amor. Quando você escolhe seu amor e constrói sua vida, para muitas os filhos são parte do processo do planejamento familiar. Mas o fato de mulheres optarem em não ter filhos e priorizarem outras escolhas, não lhes tira o direito de serem respeitadas. A uma mulher cabe o direito de suas escolhas de relacionamento. E a ela, decidir ou não se terá filhos, ou quantos quer ter. E inclusive o direito de não querer estabelecer relacionamentos conjugais.
- Direito a decidir ter ou não ter filhos e quando tê-los. Num grau de aprofundamento do direito anterior, a cada mulher é assegurado o direito de escolher se quer ou não manter uma gestação. A ela cabe o direito de escolher sobre o aborto, independe de questões religiosas.
- Direito aos benefícios do progresso científico.
- Direito à liberdade de reunião e participação política. Já se deu conta de que muitas mulheres mundo afora não podem exercer sua cidadania? A cada uma de nós é assegurado o direito de voto livre. Também assegurado o direito a participar de movimentos políticos e de se reunir. E cônjuges, mentores, pais e filhos não podem coagir esse movimento;
- Direito a não ser submetida a torturas e maus-tratos. Esse direito parece tão óbvio, mas infelizmente esse quadro de maus-tratos e tortura, humilhação ou como chamamos hoje, bullying, é a realidade de mulheres dentro e fora do Brasil.
7 Princípios de Empoderamento das Mulheres
- Estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível.
- Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não-discriminação.
- Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa.
- Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres.
- Apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres através das cadeias de suprimentos e marketing.
- Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social.
- Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.