Por Cláudio Duarte
Vídeo que circula nas redes sociais mostra várias pessoas reunidas na praça de alimentação de um shopping center de Belo Horizonte e de outras cidades para assistir ao último capítulo da novela “Vale tudo”, da Rede Globo.
A torcida
No vídeo, as pessoas gritam, torcem, choram, vibram, aplaudem e se emocionam diante das cenas transmitidas em um telão. Dentre elas muitos jovens de ambos os sexos.
O vídeo chama a atenção para a disparidade entre o comportamento exaltado das pessoas diante de uma cena de ficção e a indiferença delas diante da situação real do país, que se afunda em violência, criminalidade, corrupção, ensino classificado como um dos piores do mundo e falta de estrutura de saúde pública.
A imagem final da vilã da novela, Odete Roitman, que sobreviveu a um atentado não se sabe como, leva o público ao clímax.
Que povo é esse?
Parafraseando Renato Russo que compôs a música “Que país é esse?“, cabe perguntar “que povo é esse?”.
Que povo é esse que valoriza a ficção e ignora a realidade? Bando de mentes preguiçosas absorvidas em inutilidades.
Que povo é esse que se contenta com carnaval, futebol, samba e novelas e esquece os dramas da vida real vividos em razão da falta de atuação eficiente dos governos nos níveis federal, estadual e municipal? Povo medíocre de paixões rasteiras e simplórias.
Que povo é esse que delira e vibra com a ficção e não luta por seus direitos? Povo que tem pobreza de percepção da realidade.
Que povo é esse que se reúne para assistir a cenas de novelas indiferente ao mundo real e que é incapaz de reunir-se para protestar e exigir honestidade e decência dos governantes? A resposta está na escritora austríaca Marie Freifrau von Ebner-Eschenbach (1830 – 1916), autora de novelas psicológicas, que disse que “os escravos felizes são os piores inimigos da liberdade”.
O povo tem o governo que merece
O espírito individualista próprio dos latinos se sobrepõe à busca do bem-estar coletivo e da luta pelos interesses do país.
Talvez um povo assim bem mereça os governantes incompetentes e inescrupulosos que tem. Há quem diga que cada povo tem o governo que merece. Sociedade alienada não merece coisa melhor.
O problema não reside em ter momentos de lazer e apreciar filmes e novelas. O problema é permitir que a imbecilidade coletiva e a alienação imperem e levem as pessoas a se reunirem para nada. A ignorância não se reconhece como tal, porque a ignorância é a própria escuridão.
Ao final da exibição da novela, pergunte-se a cada uma das pessoas daquele grupo o que aprendeu ou o que cresceu espiritual ou intelectualmente e a resposta será o imenso vazio próprio de imbecis.
A emoção fabricada e a ficção superam a realidade crua que machuca e exige esforço para ser enfrentada. Viver a ficção e a fantasia é mais fácil que enfrentar a dura realidade.
O princípio romano do pão e circo funciona até os dias atuais. Atualmente, com muito mais circo que pão.
Cláudio Duarte.
Colunista e colaborador do Portal iMulher.

1 comentário
Excelente a análise. O compromisso com a realidade é também visível nas redes sociais onde o que mais se vê é lê é inutilidade, futilidade.