Há algum tempo, o antropólogo Joseph Henrich, professor da Universidade Emory (Atlanta, Estados Unidos), escreveu interessante artigo na revista Nature, sobre experimento conduzido por pesquisadores da Universidade de Erfurt, da Alemanha, e da Escola de Economia de Londres, Inglaterra.
Os pesquisadores criaram um jogo, no qual deram certa quantia em dinheiro (fictício) para 84 estudantes, que poderiam dar parte dele para serviço coletivo ou reter o valor integralmente para si. Depois de receberem o dinheiro, os estudantes podiam optar por dois grupos: um, que aplicava sanções àqueles que não colaboravam com o coletivo; e o outro grupo, sem sanções, no qual cada um tinha total liberdade para usufruir do dinheiro sem contribuir para a coletividade. Não temos os detalhes sobre como o jogo era conduzido e como os pesquisadores auferiam o desenvolvimento de cada grupo; temos o resultado, com interessante conclusão.
Inicialmente, todos os participantes escolheram participar do grupo em que não havia punição. Mas, logo passaram para o outro grupo, no qual eram aplicadas sanções àqueles que não contribuíam para a coletividade e para as atividades que beneficiariam o grupo.
Os pesquisadores verificaram que, apesar da aversão inicial pelas sanções e pelo grupo que as aplicava, a população acabava migrando para ele, porque havia maior cooperação para a coletividade e todos se beneficiavam.
Concluíram, pois, que a instituição que impõe sanções progride mais e obtém melhores resultados que aquelas livres de punições. E mais, verificaram que, mesmo que quase todos os integrantes da coletividade cooperem e contribuam para o conjunto, os egoístas, os preguiçosos e os aproveitadores, que tiram proveito do grupo, levam o sistema de cooperação sem sanções ao colapso.
Este fenômeno pode ser observado em atividades do cotidiano, em que os caroneiros e aproveitadores, que desfrutam dos benefícios coletivos criados pela contribuição dos demais sem nada pagar, vão minando o espírito comunitário de cooperação e participação. O individualismo passa a prevalecer, e a sociedade se vai esfarelando.
Interessante que os pesquisadores verificaram que quase não havia necessidade de aplicar sanções; a simples “ameaça” de punição era suficiente para garantir a cooperação de todos.
No livro Protágoras, em que discute a natureza da virtude, Platão ensinou que “quem inflige castigo racional não visa reparar o mal cometido, que não pode ser desfeito. Visa, antes, ao futuro e quer levar tanto o criminoso castigado quanto aqueles que o veem sendo castigado a desistir de qualquer delito que esteja planejando.”
O trabalho e a colaboração em prol da comunidade reforçam os seus laços de união e todos se beneficiam deles. A falta de colaboração dos membros deve ser sancionada em benefício da própria sociedade.