Por Leslie de Lyzieux
A “Crônica politicamente incorreta”, publicada pelo PORTALIMULHER no domingo passado, trouxe-me à mente atos de falta de educação, praticados por pessoas elegantes e bem arrumadas, que vivenciei ao longo de minha vida.
Resolvo narrar um deles, que poderá confirmar que a beleza aumenta com gestos de cortesia e de gentileza e diminui com gestos indelicados e grosseiros.
Temos que concordar com Anne Ninon de Lenclos, (1620 – 1705. – cortesã, escritora e patrona de artes) que disse que “a beleza é uma carta de recomendação; mas a beleza é ilusão que dura pouco”. O fato que vou narrar confirma a frase dela.
Algum tempo atrás, eu estava passeando na Itália e precisei de cartão telefônico internacional para ligar para o Brasil a fim de falar com meus filhos. Dirigi-me à loja que, segundo fui orientada, vendia os cartões. Desconfiada e ressabiada, como toda mineira que vai pela primeira vez a lugar desconhecido, entrei na loja e olhei em volta à procura de apoio ou ajuda.
Vi uma linda e elegante moça, com o rosto bonito maquiado, cabelos bem arrumados, vestida elegantemente com casaco vistoso, usando salto alto, tudo isso num dia de semana comum. Naturalmente, senti-me atraída pela “carta de recomendação” da beleza da moça e dirigi-me a ela, na esperança de que alguém tão elegante seria também elegante e gentil em me atender, compreender que eu não falava o idioma dela e me prestaria ajuda.
Aproximei-me dela, mostrei-lhe o antigo cartão de telefone, fiz o gesto de levar a mão em forma de telefone ao ouvido e ainda disse as palavras “parlare Brasil”. Sem falar italiano, a maneira mais fácil de me comunicar era por meio da mímica. Só que, para ela entender os gestos e a mímica, o mínimo que ela poderia fazer era olhar para mim e buscar entender-me para auxiliar-me.
Ela simplesmente virou as costas e saiu caminhando em direção contrária à que eu me encontrava. Sequer me olhou.
Fiquei indignada. Como uma moça bonita e elegante poderia praticar tal ato de indelicadeza? Aí cabe lembrar a segunda parte da frase de Anne Ninon de Lenclos, que diz que “a beleza é ilusão que dura pouco”.
Outra moça, que trabalhava na loja, por trás do balcão olhava-me sem graça e desconsertada pela grosseria de que fui vítima.
Mas eu não deixaria as coisas terminarem assim.
Dirigi-me à moça bonita e deseducada e desabafei tudo o que sentia naquele momento. No mais puro e bom português, que tenho certeza ela entendeu, disse-lhe que me dirigi a ela porque, vendo-a tão elegante e bonita, jamais imaginaria que pudesse ser tão descortês e deseducada, ainda mais para com outra mulher que lhe pedia ajuda. E completei dizendo que a beleza dela era apenas aparente, porquanto em alma e em valores ela era simplesmente horrorosa. Lavei a alma.
Ela ficou parada em frente a mim, simplesmente ouviu e, ainda que tenha entendido somente a metade do que falei, nada respondeu. Espero lhe tenha servido de lição.
A outra moça, que estava por trás do balcão, acompanhou o desenrolar dos fatos e entendeu o que se passara. Bastante constrangida, trouxe-me o cartão de que precisava e que tinha ido comprar.
Saí da loja com o objeto que precisava sem ter que pedir novamente e com a alma lavada em razão do desabafo que fiz e com a lição que aprendi.
Aprendi que a beleza é apenas uma moldura que serve para ornar uma obra de arte, e que a verdadeira obra de arte encontra-se no caráter, na bondade e no coração das pessoas. A beleza é vazia se não tem valores morais e espirituais a complementá-la.
Como aprecio citações de autores que reforcem meus conceitos, termino citando o poeta e ensaísta inglês Joseph Addison (1672 – 1719), que disse que “o temperamento agradável pode compensar a falta de beleza, mas a beleza não pode compensar a falta de temperamento agradável”.
Crônica de autoria de nossa leitora e colaboradora Leslie de Lyzieux.